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16 de junho de 2011

"Deleitar; Instruir; Mover - O Ensino de História e Manoel Salgado", por Edson Silva de Lima

O aluno Edson Silva de Lima, após a realização do evento em homenagem ao professor Manoel Salgado, escreveu esse texto para o blog. Nos desculpamos pela demora e agradecemos pela participação no evento e pela colaboração aqui no blog. Lembramos, então, que o blog Ítaca é um espaço onde todos podem (e devem) se manifestar. Esse espaço é justamente para isso, independentemente se há concenso ou não de opiniões. Um espaço voltado para a pluralidade e liberdade de expressão. Escrevam para nós e publicaremos seu texto.

Grupo de Atividades Ítaca 
O texto escrito reflete a opinião de seu autor.



"DELEITAR; INSTRUIR; MOVER - O ENSINO DE HISTÓRIA E MANOEL SALGADO"


Por Edson Silva de Lima, 5º período de História, manhã, UERJ

     A exposição de Prof. Dr. Durval Muniz de Albuquerque Junior nos permitiu degustar um pouco de seu conhecimento, do seu “saber sabor”. Com um discurso problematizante e simples [não simplista], apresentou a partir da leitura e adução do filosofo francês Paul Ricoeur, que explicita a importância dos pensadores que ele chama de “Mestres de Rigor”para o trabalho de analise hermenêutica e estética da dimensão narrativa da escrita histórica, um dos “mestres de Rigor” que lecionou, pensou e caminhou pelos corredores da UERJ. Esses mestres, segundo o filosofo francês, seriam: Michel Foucault, Norbert Elias e Michel de Certeau. No que tange a questão hermenêutica e estética, Certeau afirmava que a pesquisa em história se faria a partir da articulação do lugar social, da técnica e da escrita; já para Foucault, que mostra que o Ocidente inventa a história, por ele chamada de ascética, para encontrar no passado o momento fundante de sua unidade, de sua identidade, dizia que o historiador se preocupava em compreender o passado, recuperando sua necessidade interna, recortando ordenadamente os fatos numa temporalidade sequencial; enquanto que Norbert Elias, que focou a relação entre poder, comportamento, emoção e conhecimento na História; estudou a vida cotidiana para elucidar como as práticas sociais, incluindo a conduta e as atividades humanas, são produzidas e reproduzidas continuamente, através do fluxo constante da vida em sociedade. Percebemos com essa breve exposição das perspectivas desses autores, a sua relação com os dilemas da historiografia, se fincando com austeridade na análise do discurso e da estética.
     Todas essas explicitações para nos apresentar um professor, um amigo, um intelectual, Manoel Luiz Lima Salgado Guimarães. Professor falecido recentemente, que tinha experiência na área de História, com ênfase em Teoria e Filosofia da História. A este respeito, Albuquerque Junior, nos mostra as facetas desse “mestre de rigor”, pelo menos as que conheceu. De forma que não se furtou de, sim, imprimir juízo de valor. Pois o espirito saudosista ficou fortemente presente. A atmosfera de saudade, de carinho e respeito à pessoa e ao profissional não fora surrupiada, mas permaneceu durante o discurso do presidente da ANPUH. Manoel Salgado, “mestre de rigor”, rigor no pensar, em sua produção intelectual e em sua produção historiográfica. Em vida produziu clássicos, refletiu o fazer, a práxis do historiador e do ensino de história. Vaidoso, gentil e sensível no sentido mais doce da palavra. Autor, pensador austero, preocupado com a existência e com a essência das ideias. Um professor que permitia e se permitia estabelecer uma relação espiritual e afetiva com seus alunos. Um Manoel que refletia sobre o ensino da história, e que em sua práxis conquistava espaço na mente e no coração de seus ouvintes.
     O Prof. Dr. Durval Muniz de Albuquerque Junior nos permitiu deleitar nos lençóis da Teoria da História, também trouxe vontade e motivação aos espíritos “perturbados” e inquietos com a profissão de historiador. Fez mover um sentimento [amor a historia] que agonizava no ser dos estudantes de historia, instruindo para as possíveis satisfações do fazer historia, do pensar a historia, de fazer parte de uma memória, ainda que indiretamente. Usar a imagem (foto) e o imaginário (sentir/pensar), o Manoel que conheci através de seus alunos, de colegas de trabalho, sobretudo, de seus amigos. Ficará saudades...