Renan Siqueira Moraes, estudante do 7º período de história da UERJ e membro do Grupo de Atividades Ítaca.
Introdução
Nas linhas que se seguem adiante, procura-se uma análise da musicalidade da cidade do Rio de Janeiro. Por meio de uma comparação feita entre começo do século XX e o XXI, tenta-se apreender como a cidade foi e ainda é musical. Esta comparação é feita por uma perspectiva analítica da crônica do João do Rio, “Músico ambulante”, do livro de crônicas “A encantadora alma das ruas”, e uma outra perspectiva mais empírica de constatação nas andanças pela cidade.
O musical Rio de João
João do Rio inicia sua crônica falando da transumância dos músicos na cidade do Rio de Janeiro. Ele propõe que o desaparecimento dos músicos não se relaciona com os aparelhos de grafofone ou gramofone, inseridos nos cafés, hotéis e botequins da cidade. Mas que quando menos se espera os músicos voltam a aparecer na cidade, expulsando o ar modernista dos aparelhos, e pondo ao gracejo do bom ouvido e do bom publico, uma boa sinfonia. O cronista cita diversos exemplos sobre estes músicos que ora somem e por outra aparecem da cidade. Para ele, o Rio de Janeiro é uma cidade musical, o que se olharmos de hoje é uma evidente constatação, porém, trata-se do inicio do século, onde a música é embalada pelas marchinhas, modinhas e as bandas; não se contava com o samba, e a boemia era diferente.
Outra percepção do autor, e que ele pretende desmistificar, é o aspecto que se dá ao musico como de uma pessoa sofrida, que “morre de fome ao cair das ilusões”. Segundo ele, não aqui, “talvez em outras terras, mais gastas e mais frias” os músicos sucumbam à miséria de uma sofrida vida de ilusões. Pegando a biografia dos pedintes e pretensiosamente sôfregos músicos, pode-se perceber uma vida mui prospera. Algumas regadas a “jogos, mulheres e vinho”, outras de tranqüilidade, mas não em miserabilidade. O que há é uma “fachada” para que se tenha compaixão, mas por trás dela “há tanto interesse como no negociante mais avaro”.
Portanto, a crônica de João do Rio segue duas linhas de pensamento: uma é a de que a tecnologia modernista não acabara com a tradição musical da cidade e a outra é que por trás da fachada do pedinte músico, existe uma vida de muita prosperidade.
Os músicos da cidade hoje
A cidade hoje continua muito musical, há diversos festivais de músicas, os músicos estão entre os “heróis” da cidade, sua decoração se baseia na música, o seu aspecto sonoro lhe é peculiar. Movida a música, o Rio de Janeiro o é em diversos sentidos, porém, será que aquelas linhas de pensamento de João do Rio ainda permanecem. Observemos!
A tecnologia da modernidade de hoje, fluida, não acaba com os músicos da cidade. Tal como o grafofone, os cds player, mp3, aparelhos de som cheio de utilidades, enfim, todas estas parafernálias não tiram o sentido da música levada por uma viola ou guitarra. Mas estes músicos acabam tendo seus espaços restritos; no entanto, paradoxalmente, devido à super velocidade desta modernidade, os músicos acabam por encontrar novos espaços, como os shopping centers, e novos meios de fazerem música, como os Djs. Porém, alguns lugares tradicionais ainda permanecem, mas com nova roupagem, como o boteco, os bailes, as folias, etc. A modernidade acelerada de hoje parece não ter extinguido os músicos, como nos tempo de João do Rio, eles podem sumir por um tempo, mas tornam a cidade fazendo dela uma sonora metrópole.
Sobre o aspecto do músico paupérrimo, podemos constatar dois pontos: os músicos que se aglomeram no Largo da Carioca, tentando vender seus cds; e os músicos que tocam em noites, nas baladas e nos botecos. Apenas para observarmos estes dois pontos, excluímos tantos outros, mas esta exclusão serve para aproximar nosso exemplo com os músicos de João do Rio. Portanto, à margem da generalização, podemos dizer que nos dias de hoje nem todo músico pode se esbanjar nos jogos, nas mulheres e no vinho, sobretudo aqueles do Largo da Carioca. Estes normalmente têm família, e acaba vivendo (ou sobrevivendo) da música. Os músicos da noite acabam por se esbaldar mais na tríade mulher, álcool e jogo, pois já estão inseridos num clima propício para tal.
Portanto, na cidade alguns aspectos permaneceram e outros não. Algumas tradições mudaram, foram incorporadas em novos e espaços e lugares, em novos sentidos. A modernidade do alvorecer do século XXI não limitou a sonoridade da cidade, seus carros, suas obras e todo o resto, lhe soa peculiar. Pois, no Rio de Janeiro poderia se tirar uma melodia no caos sonoro de seu dia-a-dia.
Consideração final
À maneira de uma abrupta conclusão, podemos constatar que o Rio de Janeiro é uma cidade musical, que se seus tradicionais músicos não desapareceram há um século, não poderiam neste agitado começo de século sumir. Cidade musical, o Rio de Janeiro possui na sonoridade um sentido particular de sua identidade: Rio do samba, das marchinhas e da bossa; Rio dos bambas, dos boêmios e dos malandros; Rio de Saldanha, de Donga, Noel, Pixinguinha, Vinicius, Tom e Cartola. Rio de Janeiro, a encantadora cidade maravilhosa, das ruas tortuosas, de músicos a pedir dinheiro para jogar no bicho na primeira esquina. A cidade que tem a música na alma!
Bibliografia:
RIO, João do. Músicos ambulantes. In. ___ A alma encantadora das Ruas. São Paulo: Cia. de Bolso, 2008.
Introdução
Nas linhas que se seguem adiante, procura-se uma análise da musicalidade da cidade do Rio de Janeiro. Por meio de uma comparação feita entre começo do século XX e o XXI, tenta-se apreender como a cidade foi e ainda é musical. Esta comparação é feita por uma perspectiva analítica da crônica do João do Rio, “Músico ambulante”, do livro de crônicas “A encantadora alma das ruas”, e uma outra perspectiva mais empírica de constatação nas andanças pela cidade.
O musical Rio de João
João do Rio inicia sua crônica falando da transumância dos músicos na cidade do Rio de Janeiro. Ele propõe que o desaparecimento dos músicos não se relaciona com os aparelhos de grafofone ou gramofone, inseridos nos cafés, hotéis e botequins da cidade. Mas que quando menos se espera os músicos voltam a aparecer na cidade, expulsando o ar modernista dos aparelhos, e pondo ao gracejo do bom ouvido e do bom publico, uma boa sinfonia. O cronista cita diversos exemplos sobre estes músicos que ora somem e por outra aparecem da cidade. Para ele, o Rio de Janeiro é uma cidade musical, o que se olharmos de hoje é uma evidente constatação, porém, trata-se do inicio do século, onde a música é embalada pelas marchinhas, modinhas e as bandas; não se contava com o samba, e a boemia era diferente.
Outra percepção do autor, e que ele pretende desmistificar, é o aspecto que se dá ao musico como de uma pessoa sofrida, que “morre de fome ao cair das ilusões”. Segundo ele, não aqui, “talvez em outras terras, mais gastas e mais frias” os músicos sucumbam à miséria de uma sofrida vida de ilusões. Pegando a biografia dos pedintes e pretensiosamente sôfregos músicos, pode-se perceber uma vida mui prospera. Algumas regadas a “jogos, mulheres e vinho”, outras de tranqüilidade, mas não em miserabilidade. O que há é uma “fachada” para que se tenha compaixão, mas por trás dela “há tanto interesse como no negociante mais avaro”.
Portanto, a crônica de João do Rio segue duas linhas de pensamento: uma é a de que a tecnologia modernista não acabara com a tradição musical da cidade e a outra é que por trás da fachada do pedinte músico, existe uma vida de muita prosperidade.
Os músicos da cidade hoje
A cidade hoje continua muito musical, há diversos festivais de músicas, os músicos estão entre os “heróis” da cidade, sua decoração se baseia na música, o seu aspecto sonoro lhe é peculiar. Movida a música, o Rio de Janeiro o é em diversos sentidos, porém, será que aquelas linhas de pensamento de João do Rio ainda permanecem. Observemos!
A tecnologia da modernidade de hoje, fluida, não acaba com os músicos da cidade. Tal como o grafofone, os cds player, mp3, aparelhos de som cheio de utilidades, enfim, todas estas parafernálias não tiram o sentido da música levada por uma viola ou guitarra. Mas estes músicos acabam tendo seus espaços restritos; no entanto, paradoxalmente, devido à super velocidade desta modernidade, os músicos acabam por encontrar novos espaços, como os shopping centers, e novos meios de fazerem música, como os Djs. Porém, alguns lugares tradicionais ainda permanecem, mas com nova roupagem, como o boteco, os bailes, as folias, etc. A modernidade acelerada de hoje parece não ter extinguido os músicos, como nos tempo de João do Rio, eles podem sumir por um tempo, mas tornam a cidade fazendo dela uma sonora metrópole.
Sobre o aspecto do músico paupérrimo, podemos constatar dois pontos: os músicos que se aglomeram no Largo da Carioca, tentando vender seus cds; e os músicos que tocam em noites, nas baladas e nos botecos. Apenas para observarmos estes dois pontos, excluímos tantos outros, mas esta exclusão serve para aproximar nosso exemplo com os músicos de João do Rio. Portanto, à margem da generalização, podemos dizer que nos dias de hoje nem todo músico pode se esbanjar nos jogos, nas mulheres e no vinho, sobretudo aqueles do Largo da Carioca. Estes normalmente têm família, e acaba vivendo (ou sobrevivendo) da música. Os músicos da noite acabam por se esbaldar mais na tríade mulher, álcool e jogo, pois já estão inseridos num clima propício para tal.
Portanto, na cidade alguns aspectos permaneceram e outros não. Algumas tradições mudaram, foram incorporadas em novos e espaços e lugares, em novos sentidos. A modernidade do alvorecer do século XXI não limitou a sonoridade da cidade, seus carros, suas obras e todo o resto, lhe soa peculiar. Pois, no Rio de Janeiro poderia se tirar uma melodia no caos sonoro de seu dia-a-dia.
Consideração final
À maneira de uma abrupta conclusão, podemos constatar que o Rio de Janeiro é uma cidade musical, que se seus tradicionais músicos não desapareceram há um século, não poderiam neste agitado começo de século sumir. Cidade musical, o Rio de Janeiro possui na sonoridade um sentido particular de sua identidade: Rio do samba, das marchinhas e da bossa; Rio dos bambas, dos boêmios e dos malandros; Rio de Saldanha, de Donga, Noel, Pixinguinha, Vinicius, Tom e Cartola. Rio de Janeiro, a encantadora cidade maravilhosa, das ruas tortuosas, de músicos a pedir dinheiro para jogar no bicho na primeira esquina. A cidade que tem a música na alma!
Bibliografia:
RIO, João do. Músicos ambulantes. In. ___ A alma encantadora das Ruas. São Paulo: Cia. de Bolso, 2008.