29 de novembro de 2010
Sobre Ítaca
11 de novembro de 2010
Ainda sobre Ítaca(s) e viagem (Parte II)
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Se um historiador pensa em escrever uma narrativa do passado buscando já de início chegar à determinada conclusão, se acredita já saber o “fim”, todo o percurso que se propôs a “viajar” perderá seu sentido, dado que não seria necessário viajar para isso: chegar a conclusões precipitadas sem conhecer, buscando no passado somente a constatação destas.
Olhar para os acontecimentos de nosso passado e compreendê-los apenas em função do nosso presente é um esforço vão, equivocado, pois buscará explicar os processos vividos em um contexto passado a partir de referências do presente, além de levar a visões deterministas – como pensar toda a experiência humana vivida até o momento como uma preparação, uma evolução para se chegar às sociedades atuais. Um viajante não deve sair do seu país acreditando já saber o que a viagem irá lhe proporcionar, mas sim partir do seu lugar disposto a ver a particularidade, a diferença, a especificidade do mundo do outro, e assim ser capaz de pensar outras formas de se relacionar com o mundo, outras concepções, outras formas de dar sentido ao mundo, diferentes de seus referenciais anteriores à “partida”.
O distanciamento de si mesmo, do lugar (“físico” e temporal) onde me formei como indivíduo, abre um caminho para entender que aquele passado foi também um presente. As inúmeras experiências vividas no passado atendiam a visões, relações, interesses e expectativas específicas daquele tempo e lugar. Escrever história tendo “todo o tempo Ítaca na mente” produz uma compreensão dos acontecimentos fora do contexto que lhes deu legitimidade. E o que seria isso senão matar a possibilidade de vida de um tempo que já foi um presente, que se construiu e agiu, produzindo seu próprio sentido.
Nos esquecemos que “aquele presente”, logicamente, foi vivido como tal, enfrentando os problemas de seu tempo e as expectativas de um futuro completamente incerto, indefinido. As gerações de diferentes épocas conviviam com essa incógnita. Viviam e construíam seu cotidiano com perspectivas próprias, vivendo de acordo com suas possibilidades presentes e futuras.
Quando transformamos esse presente em nosso passado, numa idéia de pertencimento e até mesmo de origem, produzimos sentidos únicos e matamos as possibilidades de viver de formas diferentes, de viver outros presentes, para os contemporâneos de determinada época, ou seja, é dizer que um certo acontecimento só poderia ter acorrido como ocorreu. Dessa forma, conseguiríamos a façanha de matar os mortos: matar a possibilidade de vida, de estar em contínuo movimento, de viver daqueles mortos – matar duas vezes, silenciando a vida que existiu naquele passado. Isso seria negar às pessoas de determinado tempo e espaço, negar ao passado, a possibilidade de ser e existir Ítacas.
“Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.”
8 de novembro de 2010
Ruptura
Rapazeada,
Finalmente decidi realizar minha estréia neste espaço. Depois de muito pensar como fazê-la, optei por uma indicação.
Sei que irei quebrar a tão desejada continuidade temática das postagens. Contudo, a história – tema deste blog - é feita de continuidades e rupturas. Permitam-me, pois, leitores e companheiros, oferecer a experiência da ruptura.
Depois de ler comentários e postagens, é impossível não reconhecer o estilo do professor Manoel: as metáforas, os exemplos as conclusões... Esta atitude o faz presente; porém aumenta a saudade. Certamente, ele ainda não está pacificado – ainda não é história.
Portanto, gostaria de compartilhar com os visitantes leitores deste blog, um arquivo há muito selecionado, embora, até então, jamais escutado. Trata-se de uma entrevista com o professor Manoel, na qual ele fala sobre sua formação, sobre a história, sobre os alunos... Acho que todos deveriam ouvir.
Segue o link:
http://www.licp.uerj.br/download/manoel.mp3
Abraços,
Vinícius Vieira