Leia, reflita, comente...

22 de dezembro de 2010

Reflexão acerca do individualismo, por Renan Moraes

Recebemos o primeiro texto escrito por uma pessoa que não é integrante do "Cinco de História". Porém, como já dito, o Ítaca é um espaço onde todos podem (e devem) se manifestar. Esse espaço é justamente para isso, independentemente se há concenso ou não de opiniões. Um espaço voltado para a pluralidade e liberdade de expressão. Escrevam para nós e publicaremos seu texto.

Ítaca - Cinco de História
O texto escrito reflete a opinião de seu autor, não do Ítaca.


Reflexão acerca do individualismo

Por Renan S. Moraes, 4° período de História manhã/noite, UERJ

"Sinceramente não interessa o que tem por traz das ações policias, se são politicas ou midiaticas. O importante é estabelecer a ordem e a segurança. Tenho a impressão que os srs. são radicais demasiado e isso incomoda, já pensaram nisso? algumas pessoas preferem ver o lado "bom" dos acontecimentos. Além disso a critica pela critica não traz resultado. Parem com essa maldita história da curvatura da vara. Niguém se interessa por isso. As pessoas querem viver, serem felizes (mesmo sendo palavras de ordem irracional), queremo ser enganadas as vezes, na verdade, muitas vezes. ok!"

            Esta mensagem (cujo autor pretendo preservar) foi postada em resposta a um post relativo à “guerra no Rio”, a uma carta feita pública por um partido político de esquerda. O que pretendo aqui não é falar quem está certo ou errado: o partido, o blog do qual a mensagem fora postado ou o autor da resposta. O que pretendo é demonstrar como as pessoas tomam uma posição para falar em nome de um individualismo que, como se sabe, prejudica e muito a vida em sociedade.
            Pois bem, comecemos pelas ações policiais da “guerra no Rio”. Não irei analisá-la, mas sim o que foi dito: “não interessa”. Para quem não interessa? Imagino que muitos ficam enojados (e esta é a palavra certa) do discurso dos direitos humanos. Devemos ficar “putos da vida” quando não podemos sair de casa porque existe uma guerra, ou pior, quando nosso carro é incendiado, ou ainda quando perdemos um ente querido; enfim, estas situações nos separam ainda mais de uma parcela da sociedade que vem crescendo: os criminosos. Não proponho aqui que seja feito um exercício de empatia com o criminoso – apesar disto ser interessante –, mas que pensem numa relação de parentesco com aquele que comete o crime. Isto é fugir das amarras do individualismo também. Apesar de uma tarefa difícil, talvez seja interessante tentar.
            Já que a instituição foi abordada acima, falemos da “ordem e da segurança”. Algo que me parece demasiado claro, é que a ordem e a segurança não chegarão deste modo. Fácil, por que deixou chegar a este nível? e por que fazer isto agora? Não seria por uma chance do Brasil e o Rio de Janeiro ser a vitrine do mundo duas vezes nesta segunda década do século XXI. A questão é: e depois? Mas, voltemos a “Ordem e segurança”. Um ditado popular já dizia “não se combate a violência com violência”, no caso do Rio de Janeiro este fora posta a prova. Será possível trazer a ordem e a segurança sem violência? Isto já foi tentado: CIEPs. Mas criticado por um grupo de (desculpem-me a expressão, mas deve ser dito) burgueses. Eu afirmo: sim, existe um meio de acabar com a violência sem precisar desta. Este meio demanda um tanto de dedicação por parte de todos. Mas por que não se tenta este meio? Esta questão também me parece demasiado óbvia: não se tem interesse por isto. Estamos inseridos num meio que prega algo muito forte, e aqui voltamos ao individualismo, e sair deste meio é lutar contra esta força: espero que não saia clichê, mas esta força é o capitalismo.
            Pulemos então para a próxima frase, a qual não pretendo me deter muito. Por que um discurso de esquerda incomoda? Antes de responder esta indagação, me questiono: por que um discurso de esquerda é radical e o de direita não? Simples, porque estamos inseridos num mundo de direita. Portanto, proponho-lhes um exercício que Marx elaborou: o de negatividade do mundo, negue as facilidades viciantes deste mundo e se liberte dele. Voltando a resposta da primeira pergunta, um discurso de esquerda incomoda porque propõe um mundo diferente a este.
            Torno a me questionar: qual é o “lado bom dos acontecimentos”? Moradores da zona sul se livrarão dos arrastões e terão seus carros poupados? E quanto aos outros “cantos” da cidade ou do Estado? Quais são estas pessoas que preferem ver o lado bom das coisas? O morador da Vieira Souto? Se há algo de bom neste ato, ele é enganoso, ilusório, individualista. Ele mata pessoas, deixam outras na fome, na miséria. Será que realmente há algo de bom nisto? Sim, teremos uma Copa da FIFA seguida de Olimpíadas. Mas será que o morador da Vila Cruzeiro (ou qualquer outra comunidade) terá a possibilidade de participar deste sonho patriótico, nacional? Se estiver na lista de trabalhadores da construção civil, sim. Se for um grande sortudo que conseguirá uma vaga num dos esportes das Olimpíadas, sim. Se batalhar para “vencer na vida”, talvez.
            “As pessoas querem viver, serem felizes”. Sim, quem não quer. Eu quero. Mas não à custa de outras pessoas. E, também, não queremos ser enganados. Quando votamos num político, desejamos que ele faça algo (a não ser os votos de protesto a la Tiririca). Podemos ter uma felicidade plena, sem “vencer”, “humilhar”, etc., sem trazer com ela a violência, a miséria, a fome, a destruição...
            Sem mais delongas, o que proponho aqui não é uma “Revolução” como a russa, a chinesa ou cubana, mas uma revolução de costume. Tenho ciência da dificuldade de destruir este meio, como Mercedes Sosa cantou “é um monstro grande e pisa forte” e o Coronel Nascimento ratificou “o sistema é foda”, este meio é – usando uma ilustração de uma maravilhosa professora da noite da UERJ – como uma grande engrenagem. Esta cultura de “viva e deixe morrer” destrói a sociedade que vivemos, trazendo dor não só aos moradores de favelas: quantos “zonasulinos” não perderam algo de muito importante, que gerasse uma grande dor. Na mesma página desta resposta, outra pessoa escreveu que “só vai acabar a violência urbana quando acabar a fome, a miséria e a desigualdade social". Proponho mais: a medida pacifica para se acabar com todos os males da sociedade brasileira é destruir de uma vez por todas (e aqui invoco um grande clichê) o individualismo. Muitas pessoas se iludem com isto: “então todo mundo tomará conta da vida dos outros?”; creio que o coletivismo não seja uma antípoda da privacidade. A questão não é “tomar conta da vida dos outros”, é ajudar o próximo. Dar apoio, assistência, ajuda, parece ser difícil, mas como já disse o é porque estamos inseridos no individualismo. Proponho a cultura coletivista, onde uma pessoa ajude o seu próximo independente de cor de pele, religião, opção, filosofia, condição financeira, etc. O individualismo é a barbárie, parafraseando uma mulher mui inteligente que morrera na aurora do século passado.

4 de dezembro de 2010

Reflexões sobre Responsabilidade Cidadã

Olá pessoal,

Finalmente resolvi dar o ar da minha graça, via post. Dando uma pausa nas reflexões sobre Ítaca e a viagem que é o nosso blog, venho propor a vocês uma reflexão.

Recentemente, estive no meio de uma discussão acerca da construção de um mundo melhor para as futuras gerações, eis que surge um comentário não tão inovador mais ainda bastante distinto: o da construção de pessoas melhores para o nosso mundo.

Os problemas que implicam essa frase são da ordem de uma questão básica, a qual ou todo mundo finge que não vê, ou ignoram deliberadamente pelo dispêndio que isso requer: dedicação. A sociedade de hoje é extremamente imediatista, exercer um esforço que pretende frutos no futuro é um estorvo quando só se pensa no agora. Esse tipo de pensamento conduz ao individualismo em que nós vivemos. Uma vez que se compreende o quão profundo é o problema, o quanto se está envolvido nele, as proporções colossais aos quais tomam essas questões e no que implica uma mobilização para solucioná-lo, as pessoas se desesperam, nós nos desesperamos.

Estabelecido esse ponto temos dois caminhos a seguir: ignorar e desistir, vestir a viseira do cavalo e reduzir o olhar só ao seu próprio mundo, seus próprios problemas; ou lutar contra isso. Porém, o "inimigo" é muito maior e muito mais complexo do que se imagina. Porque esses "inimigos" somos nós mesmos e o resto do país, acomodado e que banaliza a violência e corrupção, enquanto questões que na sua dimensão micro são aparentemente consideradas sem relevância ou pontuais, como a ética.

Combater esse problema não significa propor uma Revolução como aquela que nós vemos nos livros de História do segundo grau, não significa depor o presidente e instituir um novo governo, não significa romper com a ordem vigente violentamente. Significa sim se impor, se mobilizar, mas atuar principalmente na nossa micro realidade, na nossa pequena dimensão. Os atos que constantemente consideramos sem repercussão política fazem toda a diferença. Os escândalos políticos que nós testemunhamos não são tão diferentes assim quando se reduz o escopo paras as nossas próprias atitudes. A Revolução revolucionária é a realizada todos os dias, mudando uma micro-realidade, rompendo com os hábitos e os vícios, que muitas vezes somos desencorajados a enfrentar.

Alguns podem me considerar reacionário por falar contra aquela Revolução por muitos idealizada, mas se a História pode nos ensinar alguma coisa, e eu não acredito que possa, é que nas Revoluções desse tipo o resultado nunca é aquele por nós idealizado.

Alex Carneiro


29 de novembro de 2010

Sobre Ítaca

Sobre Ítaca

Sobre o solo de Ítaca muitos andam
Solo onde muitos plantam, mas nem todos colhem
Solo onde há diversidade e possibilidades de escolhas
Por entre os céus de Ítaca muitos voam
Uns voam mais alto, outros, mais baixo
Ainda há aqueles que sequer alçam vôo
Por serem muitos os que a habitam
Ítaca vive uma pluralidade
Há os que desejam partir e se aventurar mar adentro
E os que preferem o conforto de seus lares
O hábito naturaliza o olhar dos que ficam
Para os que partem, há um mundo novo
Por vezes, encontram lestrigões e ciclopes
Mas aprendem a lidar com os monstros
Se perdem e se encontram nas viagens
Viagens que Odisseu os inspirou a prosseguir
Viagens que desgastam e os fazem refletir
Pensarão nos que ficaram e indagarão porquê partiram
A lareira, a cama, a roupa, tudo está em Ítaca
Mas em Ítaca não há a incerteza do mar
Não há o confronto com os temores
Não há descobertas
Não há experiências
Então entendem o porquê da partida
Ítaca é seu porto seguro
E para ser seguro, nela não há confrontos ou descobertas
Vive-se o cotidiano com o mesmo olhar corriqueiro de sempre
Automatizado
O que as ondas do mar quebram
Sobre Ítaca escrevo agradecendo
Pois Ítaca me pôs a viajar
Proporcionou inúmeras viagens
Ítaca me fez ver com um outro olhar

M.A.

11 de novembro de 2010

Ainda sobre Ítaca(s) e viagem (Parte II)

...

Se um historiador pensa em escrever uma narrativa do passado buscando já de início chegar à determinada conclusão, se acredita já saber o “fim”, todo o percurso que se propôs a “viajar” perderá seu sentido, dado que não seria necessário viajar para isso: chegar a conclusões precipitadas sem conhecer, buscando no passado somente a constatação destas.

Olhar para os acontecimentos de nosso passado e compreendê-los apenas em função do nosso presente é um esforço vão, equivocado, pois buscará explicar os processos vividos em um contexto passado a partir de referências do presente, além de levar a visões deterministas – como pensar toda a experiência humana vivida até o momento como uma preparação, uma evolução para se chegar às sociedades atuais. Um viajante não deve sair do seu país acreditando já saber o que a viagem irá lhe proporcionar, mas sim partir do seu lugar disposto a ver a particularidade, a diferença, a especificidade do mundo do outro, e assim ser capaz de pensar outras formas de se relacionar com o mundo, outras concepções, outras formas de dar sentido ao mundo, diferentes de seus referenciais anteriores à “partida”.

O distanciamento de si mesmo, do lugar (“físico” e temporal) onde me formei como indivíduo, abre um caminho para entender que aquele passado foi também um presente. As inúmeras experiências vividas no passado atendiam a visões, relações, interesses e expectativas específicas daquele tempo e lugar. Escrever história tendo “todo o tempo Ítaca na mente” produz uma compreensão dos acontecimentos fora do contexto que lhes deu legitimidade. E o que seria isso senão matar a possibilidade de vida de um tempo que já foi um presente, que se construiu e agiu, produzindo seu próprio sentido.

Nos esquecemos que “aquele presente”, logicamente, foi vivido como tal, enfrentando os problemas de seu tempo e as expectativas de um futuro completamente incerto, indefinido. As gerações de diferentes épocas conviviam com essa incógnita. Viviam e construíam seu cotidiano com perspectivas próprias, vivendo de acordo com suas possibilidades presentes e futuras.

Quando transformamos esse presente em nosso passado, numa idéia de pertencimento e até mesmo de origem, produzimos sentidos únicos e matamos as possibilidades de viver de formas diferentes, de viver outros presentes, para os contemporâneos de determinada época, ou seja, é dizer que um certo acontecimento só poderia ter acorrido como ocorreu. Dessa forma, conseguiríamos a façanha de matar os mortos: matar a possibilidade de vida, de estar em contínuo movimento, de viver daqueles mortos – matar duas vezes, silenciando a vida que existiu naquele passado. Isso seria negar às pessoas de determinado tempo e espaço, negar ao passado, a possibilidade de ser e existir Ítacas.

“Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.”

8 de novembro de 2010

Ruptura

Rapazeada,

Finalmente decidi realizar minha estréia neste espaço. Depois de muito pensar como fazê-la, optei por uma indicação.

Sei que irei quebrar a tão desejada continuidade temática das postagens. Contudo, a história – tema deste blog - é feita de continuidades e rupturas. Permitam-me, pois, leitores e companheiros, oferecer a experiência da ruptura.

Depois de ler comentários e postagens, é impossível não reconhecer o estilo do professor Manoel: as metáforas, os exemplos as conclusões... Esta atitude o faz presente; porém aumenta a saudade. Certamente, ele ainda não está pacificado – ainda não é história.

Portanto, gostaria de compartilhar com os visitantes leitores deste blog, um arquivo há muito selecionado, embora, até então, jamais escutado. Trata-se de uma entrevista com o professor Manoel, na qual ele fala sobre sua formação, sobre a história, sobre os alunos... Acho que todos deveriam ouvir.

Segue o link:

http://www.licp.uerj.br/download/manoel.mp3

Abraços,

Vinícius Vieira

6 de novembro de 2010

Ainda sobre Ítaca e viagem (Parte I)

Falamos aqui sobre Ítaca e sobre a viagem de Ulisses [ver poema de Kaváfis e o post Cinco de História (...) (Parte II)] . Sobre a importância de se distanciar de sua “terra natal”. Mas qual é a relevância da viagem? Por que viajar? A viagem constrange – ao nos colocar em contato com outras perspectivas – nos mostra limites, permite o distanciamento de si mesmo e o contato com o outro, com outros lugares, outras culturas, outros pontos de vista – então olhamos no espelho e já não somos mais os mesmos. A viagem nos transforma. Com as experiências e as novas visões proporcionadas por ela, olhando de novo e à distância, nossa familiar Ítaca toma uma forma diferente da qual, pelo costume, era seu natural, assim como nós, os andarilhos, também mudamos constantemente, através do contínuo contato com o diferente, o novo.
“Se a expectativa de felicidade e riqueza estiver somente em Ítaca ignora-se a felicidade e a riqueza proporcionadas pela viagem”. Ignora-se as reflexões durante o percurso, a reinterpretação de si e do mundo. Ítaca nos propicia uma bela viagem, sem ela não nos poríamos a caminho. Mas não devemos apressar a viagem nunca, pois se o retorno para casa for a única meta, a própria viagem deixa de ter sentido. Então, por que viajar quando não conseguimos nos distanciar de Ítaca? Por que “viajamos” à Idade Média se continuamos presos ao presente?
Consideremos Ítaca como nosso presente, nosso lugar no tempo. Ao visar Ítaca constantemente, durante a viagem ao passado, perde-se o que essa experiência – a busca, a pesquisa, o percurso – pode proporcionar e corre-se o risco de chegar a conclusões antes de sair do porto, levando ao passado ou aos lugares que visitamos pensamentos e valores que não cabem naquela situação. Daí os anacronismos, julgamentos e dicotomias do tipo “isso é bom” ou “aquilo é mau”. Os novos lugares que conhecemos são diferentes da nossa casa, da mesma forma como os passados são vários e diversos entre si e em relação ao presente.
Chegamos então a uma outra pergunta, que tem estreita relação com aquelas já apresentadas. Por que o exílio é importante ao ofício do historiador, ao pensamento histórico? Por que o viajar, o distanciamento (não só físico) de sua posição natural, habitual e cômoda promove uma reflexão mais crítica e menos viciada?
Essas questões são para nós, são para vocês. Portanto...

28 de outubro de 2010

Por que não escrevemos?

"Há tempos tive um sonho... não me lembro. Não me lembro."
O que aconteceu?
Podemos e nos é proporcionado um espaço para escrever, expressar opiniões, dialogar, construir, desconstruir e refletir. Entretanto, uma apatia se faz presente... Questionamentos ausentes... Nesse momento, as perguntas que devemos nos fazer são: "por que estamos aqui?", "o que fazemos aqui?".
Ainda estamos buscando as respostas. Pode ser que o processo de produção da escrita, enquanto estímulo à reflexão e ao pensamento possa elucidar esses questionamentos. Ou não. De qualquer forma, se propor a isso, questionar e ser questionado, já é válido.
Talvez o pharmakón para tal apatia seja nos perguntarmos sempre por isso, perguntar o que fazemos e por que estamos aqui, ainda que acreditemos ter encontrado a resposta. Lembremos que o pharmakón é uma droga. Em que doses comedidas, pacifica as angústias. Em doses excessivas, mata. Não devemos acabar com nossas angústias. Interromperíamos aquilo que nos move.
A apatia entendida como ausência de afetos, nos faz refletir sobre a nossa relação com a História - mundo de variadas paixões. É como se estivéssemos encobertos por um véu que esconde o brilho e o encanto pelo fazer História. Temos que nos encantar, nos identificar, deleitar e mover. Onde está o encanto?
"E há tempos o encanto está ausente."
Será?
Mover. É o que precisamos.

ps. As citações são referentes à trechos da música "Há tempos", da banda Legião Urbana.
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Esse texto foi escrito por duas integrantes do "Cinco de História", Fernanda Carvalho e M.A., e foi publicado no jornal do CAHIS (jornal do centro acadêmico de História). Ele versa questões que surgiram  no decorrer do curso de História e nos fazem refletir, porém pode ser aplicado em um outro contexto que faça sentido para você. Ainda propomos um incentivo à produção da escrita e por isso postamos ele aqui no blog. Convidamos vocês a escreverem também, seja discussões nos cometários, seja colaborações de textos.

Cinco de História: cinco pessoas, cinco universos e um lugar de encontro (Parte II)

Sobre o blog:

Esses questionamentos (para saber mais, leia a Parte I desse post) nos levaram a pensar no que fazemos e no que somos capazes de fazer. E, para nós, pensar isso é o que dá sentido ao fazer História. Não um sentido único, mas um sentido que será construído através dos "caminhos" traçados por cada um de nós, pois cada pessoa é movida por paixões diferentes. Isso implica em diversas perspectivas, variadas experiências a partir de variadas viagens. Escolhemos viajar e compartilhar nossas experiências de viagem, esperamos que vocês compartilhem as suas também.
Quanto a viagem, começamos a pensar nela quando fomos apresentados ao poema de Kaváfis, Ítaca, em uma aula de Introdução aos Estudos Históricos. O poema traz a epopéia de Homero, Odisséia. Fala sobre a viagem que Odisseu encara no seu retorno à Ítaca, depois da guerra de Tróia. Odisseu tem como objetivo chegar à Ítaca e, embora tenha seu retorno retardado em 10 anos, o atinge ao final da epopéia.
No decorrer de sua viagem, Odisseu vive inúmeras experiências e sobre isso o poema de Kavafis nos faz refltir. A viagem repleta de aventuras e saberes de Kaváfis possibilita uma compreensão sobre quem somos e o sentido que damos a nossa vivência. O distanciamento, o percurso, a viagem deve ser apreciada e aprofundada para tornar-se rica. Isso proporciona muito mais do que Ítaca por si só.
Pois a busca é mais importante que a finalidade, a viagem é mais importante que Ítaca. Se a expectativa de felicidade e riqueza estiver somente em Ítaca ignora-se a felicidade e a riqueza proporcionadas pela viagem. 
Não esperamos que todos compartilhem das nossas perspectivas, até porque não é essa a nossa intenção. Por isso abrimos esse espaço para discussões e reflexões, mas de uma maneira plural, contando com a colaborações de vocês.


ps. Para que um texto seja postado, basta enviá-lo para: itaca.historia@gmail.com
ps.2. Todas as quintas-feiras postaremos um texto que tenha sido enviado para o e-mail.

26 de outubro de 2010

Cinco de História: cinco pessoas, cinco universos e um lugar de encontro (Parte I)

Nesse post iremos apresentar nosso grupo: “Cinco de História”.

Embora possa parecer que somos um grupo antigo, o “Cinco de História” surgiu recentemente, a partir de momentos de reflexões conjuntas em halls universitários e mesas de bar.
Nos conhecemos em 2009, quando iniciamos a faculdade de História. Éramos cinco pessoas diferentes com variadas expectativas, curiosidades e questionamentos. Mesmo diferentes, acabamos nos aproximando.
Ainda vislumbrados pela primeira pintura da faculdade, um impressionismo do momento, nos deparamos com uma questão: “por que fazer História?”.
Foi um professor que fez essa pergunta durante uma aula... Suas aulas nos faziam refletir, questionar... nos inspirava... Algo nos moveu.
Mas ao contrário do que se poderia pensar, essa pergunta não nos levou a nenhuma resposta, nenhum lugar, mas nos proporcionou outros questionamentos, outros caminhos.
E é por esses caminhos que buscamos trilhar nossa viagem...

20 de outubro de 2010

Ítaca

William Turner

 Ítaca

Se partires um dia rumo à Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posidon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posidon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.
                        
Konstantinos Kaváfis
                                                                                                                 (tradução: J. P. Paes) 

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O primeiro post traz o poema "Ítaca", de Kaváfis. Este, nos foi apresentado no curso de Introdução aos Estudos Históricos, da faculdade de História. Uma reflexão que levamos conosco. Marca indelével.

M.A.