Reflexão acerca do individualismo
Por Renan S. Moraes, 4° período de História manhã/noite, UERJ
Olá pessoal,
Finalmente resolvi dar o ar da minha graça, via post. Dando uma pausa nas reflexões sobre Ítaca e a viagem que é o nosso blog, venho propor a vocês uma reflexão.
Recentemente, estive no meio de uma discussão acerca da construção de um mundo melhor para as futuras gerações, eis que surge um comentário não tão inovador mais ainda bastante distinto: o da construção de pessoas melhores para o nosso mundo.
Os problemas que implicam essa frase são da ordem de uma questão básica, a qual ou todo mundo finge que não vê, ou ignoram deliberadamente pelo dispêndio que isso requer: dedicação. A sociedade de hoje é extremamente imediatista, exercer um esforço que pretende frutos no futuro é um estorvo quando só se pensa no agora. Esse tipo de pensamento conduz ao individualismo em que nós vivemos. Uma vez que se compreende o quão profundo é o problema, o quanto se está envolvido nele, as proporções colossais aos quais tomam essas questões e no que implica uma mobilização para solucioná-lo, as pessoas se desesperam, nós nos desesperamos.
Estabelecido esse ponto temos dois caminhos a seguir: ignorar e desistir, vestir a viseira do cavalo e reduzir o olhar só ao seu próprio mundo, seus próprios problemas; ou lutar contra isso. Porém, o "inimigo" é muito maior e muito mais complexo do que se imagina. Porque esses "inimigos" somos nós mesmos e o resto do país, acomodado e que banaliza a violência e corrupção, enquanto questões que na sua dimensão micro são aparentemente consideradas sem relevância ou pontuais, como a ética.
Combater esse problema não significa propor uma Revolução como aquela que nós vemos nos livros de História do segundo grau, não significa depor o presidente e instituir um novo governo, não significa romper com a ordem vigente violentamente. Significa sim se impor, se mobilizar, mas atuar principalmente na nossa micro realidade, na nossa pequena dimensão. Os atos que constantemente consideramos sem repercussão política fazem toda a diferença. Os escândalos políticos que nós testemunhamos não são tão diferentes assim quando se reduz o escopo paras as nossas próprias atitudes. A Revolução revolucionária é a realizada todos os dias, mudando uma micro-realidade, rompendo com os hábitos e os vícios, que muitas vezes somos desencorajados a enfrentar.
Alguns podem me considerar reacionário por falar contra aquela Revolução por muitos idealizada, mas se a História pode nos ensinar alguma coisa, e eu não acredito que possa, é que nas Revoluções desse tipo o resultado nunca é aquele por nós idealizado.
Alex Carneiro
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Se um historiador pensa em escrever uma narrativa do passado buscando já de início chegar à determinada conclusão, se acredita já saber o “fim”, todo o percurso que se propôs a “viajar” perderá seu sentido, dado que não seria necessário viajar para isso: chegar a conclusões precipitadas sem conhecer, buscando no passado somente a constatação destas.
Olhar para os acontecimentos de nosso passado e compreendê-los apenas em função do nosso presente é um esforço vão, equivocado, pois buscará explicar os processos vividos em um contexto passado a partir de referências do presente, além de levar a visões deterministas – como pensar toda a experiência humana vivida até o momento como uma preparação, uma evolução para se chegar às sociedades atuais. Um viajante não deve sair do seu país acreditando já saber o que a viagem irá lhe proporcionar, mas sim partir do seu lugar disposto a ver a particularidade, a diferença, a especificidade do mundo do outro, e assim ser capaz de pensar outras formas de se relacionar com o mundo, outras concepções, outras formas de dar sentido ao mundo, diferentes de seus referenciais anteriores à “partida”.
O distanciamento de si mesmo, do lugar (“físico” e temporal) onde me formei como indivíduo, abre um caminho para entender que aquele passado foi também um presente. As inúmeras experiências vividas no passado atendiam a visões, relações, interesses e expectativas específicas daquele tempo e lugar. Escrever história tendo “todo o tempo Ítaca na mente” produz uma compreensão dos acontecimentos fora do contexto que lhes deu legitimidade. E o que seria isso senão matar a possibilidade de vida de um tempo que já foi um presente, que se construiu e agiu, produzindo seu próprio sentido.
Nos esquecemos que “aquele presente”, logicamente, foi vivido como tal, enfrentando os problemas de seu tempo e as expectativas de um futuro completamente incerto, indefinido. As gerações de diferentes épocas conviviam com essa incógnita. Viviam e construíam seu cotidiano com perspectivas próprias, vivendo de acordo com suas possibilidades presentes e futuras.
Quando transformamos esse presente em nosso passado, numa idéia de pertencimento e até mesmo de origem, produzimos sentidos únicos e matamos as possibilidades de viver de formas diferentes, de viver outros presentes, para os contemporâneos de determinada época, ou seja, é dizer que um certo acontecimento só poderia ter acorrido como ocorreu. Dessa forma, conseguiríamos a façanha de matar os mortos: matar a possibilidade de vida, de estar em contínuo movimento, de viver daqueles mortos – matar duas vezes, silenciando a vida que existiu naquele passado. Isso seria negar às pessoas de determinado tempo e espaço, negar ao passado, a possibilidade de ser e existir Ítacas.
“Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.”
Rapazeada,
Finalmente decidi realizar minha estréia neste espaço. Depois de muito pensar como fazê-la, optei por uma indicação.
Sei que irei quebrar a tão desejada continuidade temática das postagens. Contudo, a história – tema deste blog - é feita de continuidades e rupturas. Permitam-me, pois, leitores e companheiros, oferecer a experiência da ruptura.
Depois de ler comentários e postagens, é impossível não reconhecer o estilo do professor Manoel: as metáforas, os exemplos as conclusões... Esta atitude o faz presente; porém aumenta a saudade. Certamente, ele ainda não está pacificado – ainda não é história.
Portanto, gostaria de compartilhar com os visitantes leitores deste blog, um arquivo há muito selecionado, embora, até então, jamais escutado. Trata-se de uma entrevista com o professor Manoel, na qual ele fala sobre sua formação, sobre a história, sobre os alunos... Acho que todos deveriam ouvir.
Segue o link:
http://www.licp.uerj.br/download/manoel.mp3
Abraços,
Vinícius Vieira
William Turner |